Junho Verde é o mês de conscientização sobre a escoliose, condição que, apesar de ser mais frequente durante a adolescência, também afeta adultos e idosos. Caracterizada por uma curvatura anormal da coluna vertebral, pode surgir em diferentes fases da vida, exigindo abordagens específicas para cada faixa etária.
Nesta semana, fiz uma publicação em minhas redes sociais sobre o caso da filha do apresentador Rodrigo Faro, Maria Viel Faro, de 16 anos, que trouxe luz ao tema da escoliose idiopática na adolescência. Decidi então escrever sobre o outro lado da moeda – o impacto da escoliose em adultos e idosos. Um tema ainda pouco falado, mas que merece atenção. Como neurocirurgião, acompanho de perto a realidade de pacientes que, muitas vezes, chegam ao consultório com dores debilitantes, limitações motoras e queda na autoestima por conta deste problema.
Como a escoliose surge na vida adulta?
Enquanto a escoliose costuma ter origem idiopática nos jovens, ou seja, de causa náo identificada, nos adultos ela é, geralmente, degenerativa. Ao longo dos anos, o desgaste natural dos discos intervertebrais e das articulações da coluna pode provocar um desvio lateral da coluna, muitas vezes silencioso no início, mas progressivamente limitante.
Essa curvatura pode surgir em qualquer parte da coluna, mas é mais comum na região lombar. A condição afeta não apenas a postura, mas também a mobilidade, podendo provocar dores crônicas, compressões nervosas, desequilíbrio e, em casos avançados, disfunções motoras.
Impacto direto da escoliose na autonomia de adultos e idosos
Uma das queixas mais comuns que ouço em consultório é: “Doutor, não consigo mais fazer o que fazia antes.” A escoliose em idosos pode afetar profundamente a capacidade de caminhar, realizar tarefas domésticas, dirigir ou simplesmente levantar-se da cama sem dor. O desequilíbrio postural pode ainda aumentar o risco de quedas, o que agrava o cenário clínico.
Além do impacto físico, o aspecto emocional também não pode ser ignorado. Viver com dor constante e limitações progressivas pode levar à ansiedade, isolamento social e depressão. A autonomia é comprometida e, com ela, o bem-estar.
Quando a cirurgia para a correção da escoliose se torna necessária?
O primeiro passo no tratamento costuma ser conservador: fisioterapia, analgesia, fortalecimento muscular e mudanças no estilo de vida. Contudo, quando esses recursos deixam de oferecer alívio, a cirurgia passa a ser considerada.
A indicação cirúrgica ocorre especialmente quando:
A dor se torna incapacitante;
A curvatura avança significativamente, acima de 40 graus;
Há sinais neurológicos, como dormência ou fraqueza nas pernas;
A postura interfere na respiração, marcha ou equilíbrio.
Em muitos desses casos, a descompressão da medula e dos nervos, associada à estabilização com hastes e parafusos (artrodese), pode devolver não apenas o alinhamento da coluna, mas a funcionalidade e a autonomia do paciente.
Avanços cirúrgicos e maior segurança para todas as idades
Hoje, contamos com tecnologias que aumentam a precisão e a segurança das cirurgias. A navegação intraoperatória, o monitoramento neurofisiológico e as técnicas minimamente invasivas permitem resultados mais previsíveis e recuperações menos dolorosas, especialmente para pacientes com idade mais avançada.
Cada plano cirúrgico é individualizado, levando em consideração a curva, a idade, a saúde geral e os objetivos do paciente. Em minha prática, costumo dizer que não operamos uma coluna, operamos uma pessoa – e essa pessoa precisa voltar a ter qualidade de vida.
A boa notícia é que, com diagnóstico preciso e abordagem adequada, seja cirúrgica ou não, é possível recuperar qualidade de vida.
Se você ou alguém próximo enfrenta esse desafio, não hesite em procurar avaliação especializada. A saúde da coluna é um pilar essencial para a sua liberdade de movimento e bem-estar.
Dr. Alexandre Elias.