Entenda como pequenos descuidos em casa podem resultar em lesões sérias na coluna e como evitá-las
Acidentes domésticos como os que aconteceram com Presidente Lula e os cantores Ronnie Von e Aguinaldo Rayol despertaram o alerta para algo muito comum, sério e bastante subestimado: a possibilidade de lesões graves na cabeça e afins, resultantes de quedas em em casa. Como neurocirurgião especializado em coluna, quero abordar o que pode ocorrer em situações assim e, mais importante, como podemos prevenir danos significativos.
Os acidentes domésticos são mais comuns do que você imagina!
Tropeçar em tapetes, móveis ou escorregar durante o banho são situações que a maioria de nós já enfrentou ou testemunhou, especialmente com pessoas idosas. Embora muitas dessas quedas possam representar apenas um susto momentâneo, outras podem resultar em traumas sérios, especialmente se afetarem a cabeça ou a coluna.
A coluna vertebral, uma estrutura complexa que sustenta nosso corpo e protege a medula espinhal, é particularmente vulnerável. Lesões nessa área podem variar de contusões leves a fraturas e danos neurológicos que, em alguns casos, levam à perda de movimentos ou à paralisia.
Como os acidentes domésticos podem provocar lesões na coluna?
Ao escorregarmos e cairmos, a força do impacto é transmitida pelo corpo, e dependendo da direção e da intensidade, essa energia pode se concentrar na coluna. É importante entender que não são apenas quedas de grandes alturas que oferecem risco. Bater as costas contra uma superfície dura, por exemplo, pode deslocar vértebras ou comprimir discos intervertebrais.
Outro ponto crítico é a batida na cabeça. Se um impacto significativo ocorrer, a força pode se propagar pela coluna cervical, resultando em lesões como whiplash (lesão por chicoteamento) — mais frequente em acidentes de carro — ou, em casos mais graves, fraturas cervicais.
Grupos de risco mais suscetíveis a lesões na coluna
Embora todos estejamos suscetíveis a acidentes domésticos, existem grupos de risco que devem ter atenção redobrada:
Idosos: Com a idade, a densidade óssea tende a diminuir, tornando os ossos mais frágeis. Uma queda que pode não causar nada em um jovem pode resultar em fraturas sérias em um idoso.
Crianças: Por serem naturalmente ativas e curiosas, acidentes são comuns. Contudo, as quedas de alturas, como de uma cama ou sofá, podem ser mais perigosas do que aparentam.
Indivíduos com condições pré-existentes: Quem já possui problemas de coluna, como hérnias de disco ou osteoporose, está mais suscetível a agravar esses problemas em um acidente.
Como evitar acidentes domésticos e proteger a sua coluna
Felizmente, há várias medidas simples que podem ser adotadas para minimizar os riscos de quedas e acidentes que afetam a coluna. Veja alguns exemplos que separei:
1. Mantenha o ambiente livre de obstáculos: Retire tapetes soltos e verifique se há fios elétricos atravessando passagens.
2. Instale barras de apoio no banheiro: Esse é um local comum para quedas devido ao piso escorregadio, mas barras de apoio oferecem segurança extra, especialmente para idosos.
3. Use iluminação adequada: Uma casa bem iluminada ajuda a identificar perigos no caminho, evitando tropeços.
4. Atenção às superfícies escorregadias: Coloque tapetes antiderrapantes em áreas molhadas, como a cozinha e o banheiro.
5. Sapatos adequados: Em casa, evite calçados com solas lisas. Prefira chinelos e sapatos antiderrapantes.
Como proceder após o acidente?
Logo após o trauma, é importante consultar imediatamente um médico especialista, pois ele poderá entender a gravidade da lesão e prescrever o melhor tratamento. Além disso, esse acompanhamento deve ser feito em todos os casos, independentemente do aparecimento de possíveis sintomas pós-traumáticos, como formigamento, hematomas ou fraqueza nos membros. Por outro lado, tentar levantar-se ou movimentar-se de forma imprudente pode agravar uma possível lesão.
Nesse sentido, para avaliar possíveis danos, exames como raio-X, tomografia computadorizada e ressonância magnética são cruciais. Eles ajudam a identificar fraturas, compressões ou deslocamentos que podem não ser evidentes apenas com uma observação inicial.
Uma curiosidade importante: Em alguns casos, no exame de tomografia e raio-X, não é possível observar sinais de lesão, sendo necessário uma ressonância completa da coluna. Além disso, alguns hematomas, principalmente na área do crânio, podem se manifestar apenas alguns meses após o trauma.
Em suma, se tiver dúvidas ou estiver preocupado com sua saúde vertebral, não hesite em procurar um especialista em coluna. Prevenir é sempre melhor do que remediar, especialmente quando se trata da nossa coluna, que sustenta nossa vida e movimento.
Dr. Alexandre Elias.
Neurocirurgião de coluna com foco em cirurgia minimamente invasiva e atua há 20 anos na área. É também especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), pela Sociedade Brasileira de Coluna Vertebral (SBC), mestre pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e research fellow em cirurgia da coluna vertebral na University of Arkansas for Medical Sciences (EUA). O médico ainda atua como preceptor de cirurgia de coluna vertebral no Departamento de Neurocirurgia da Unifesp desde 2007 e como membro do Hospital Sírio-Libanês e do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho. Foi Chefe de Coluna do Setor da UNIFESP de 2010 a 2015.