Entenda como se dá a formação do “bico de papagaio”, ou osteofitose, condição relacionada às alterações degenerativas e ao envelhecimento natural da coluna vertebral
Hoje eu venho compartilhar com vocês os principais pontos do último episódio do meu podcast, o “Hora da Coluna“. Neste bate-papo, mergulhei em um tema muito comum, mas ainda pouco compreendido: o “bico de papagaio”, ou osteofitose.
O que é o “bico de papagaio”?
Você já deve ter ouvido falar em “bico de papagaio”, correto? Esse termo é usado popularmente para descrever calcificações que surgem nas vértebras da coluna devido ao desgaste e ao processo de envelhecimento natural. O nome é bastante visual, pois essas calcificações realmente se assemelham ao formato de um bico de papagaio.
Uma analogia para facilitar a compreensão
Para ajudar a entender melhor o que é o “bico de papagaio”, gosto de usar a seguinte analogia: imagine que você está construindo as paredes da sua casa, mas percebe que os tijolos não se sustentam sozinhos. O que você faria? Provavelmente, usaria um reboco para manter as paredes firmes e evitar que desmoronem.
Comparando com o “bico de papagaio”, quando os discos intervertebrais começam a desgastar e perder altura, as vértebras ficam instáveis e precisam de suporte adicional. O corpo, então, cria essas calcificações como uma defesa natural para estabilizar a coluna e impedir que ela se mova de forma anormal. Embora essa adaptação ajude a reduzir a instabilidade, ela pode gerar desconforto se comprimir estruturas nervosas próximas, inclusive gerando dor e outros sintomas como falta de sensibilidade de membros pela inervação da coluna com as diversas partes do corpo.
Por que isso acontece?
O “bico de papagaio” está essencialmente relacionado ao envelhecimento da coluna, embora não seja a única causa. Quando somos jovens, nossos discos intervertebrais são flexíveis, saudáveis e funcionam a todo vapor, mas, com o passar dos anos, esses discos começam a perder altura e elasticidade.
Outras condições que podem causar o bico de papagaio são: artrose, hérnia de disco, obesidade, traumas e algumas condições reumatológicas, como a espondilite anquilosante.
Sintomas e diagnóstico
Um ponto que sempre gera dúvidas entre meus pacientes é a relação aos sintomas do bico de papagaio. Nem todas as pessoas que apresentam osteofitose sentem dor, e é comum que essas alterações sejam descobertas em exames de imagem. Porém, quando há sintomas, eles geralmente incluem dores mecânicas — que são mais evidentes quando ocorre uma movimentação — nas costas, que podem irradiar para as pernas, dependendo da região afetada. Outras queixas comuns são de sensação de queimação e fraqueza muscular.
Outra pergunta muito comum é sobre a idade em que o processo de envelhecimento da coluna começa. No geral, esse desgaste costuma se manifestar a partir dos 45 anos, mas pode variar muito de pessoa para pessoa, dependendo de fatores genéticos e do estilo de vida. Mulheres que já estão no período de menopausa ou pacientes com osteoporose, por exemplo, podem ter uma progressão mais rápida do processo. Quanto mais cedo começarmos a cuidar da saúde da coluna, melhores serão as nossas chances de manter a qualidade de vida em idade avançada.
Durante o episódio, discutimos também como essas calcificações podem, em alguns casos, comprimir raízes nervosas, intensificando a dor e outros sintomas. Mas é importante lembrar: o diagnóstico deve sempre ser feito com base na correlação entre os achados clínicos e os exames de imagem.
Tratamento do bico de papagaio
Quando se fala em tratamento para o “bico de papagaio”, a abordagem varia de acordo com os sintomas e da gravidade. Na maioria dos casos a fisioterapia e práticas específicas, como o Pilates, ajudam a controlar a dor e a melhorar a função da coluna. A prática de musculação para pessoas mais velhas é altamente recomendada para prevenir a progressão do desgaste ósseo.
Para casos mais avançados, onde os tratamentos clínicos não trazem alívio, a cirurgia pode ser uma opção. Técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia endoscópica, permite uma recuperação mais rápida e segura, mesmo em pacientes mais idosos. Essa técnica está amplamente disponível no Brasil, tornando o acesso ao tratamento de alta qualidade uma realidade para muitas pessoas.
Para entender mais sobre essa condição e ouvir todas as explicações detalhadas, indico que escute o episódio completo do “Hora da Coluna” – clicando aqui.
Dr. Alexandre Elias.
Neurocirurgião de coluna com foco em cirurgia minimamente invasiva e atua há 20 anos na área. É também especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), pela Sociedade Brasileira de Coluna Vertebral (SBC), mestre pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e research fellow em cirurgia da coluna vertebral na University of Arkansas for Medical Sciences (EUA). O médico ainda atua como preceptor de cirurgia de coluna vertebral no Departamento de Neurocirurgia da Unifesp desde 2007 e como membro do Hospital Sírio-Libanês e do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho. Foi Chefe de Coluna do Setor da UNIFESP de 2010 a 2015.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/0187458101842056