Entenda como fatores hormonais e da rotina feminina podem impactar a saúde da coluna
A Semana da Mulher é dedicada à reflexão sobre as lutas por igualdade e dignidade para as mulheres. Por aqui, reconheço o quanto esse tema é importante e quero aproveitar para agregar informações que favoreçam a qualidade de vida feminina.
As dores nas costas atingem milhões de pessoas, mas você sabia que as mulheres têm uma propensão maior aos problemas da coluna? Sim, e os motivos para isso estão relacionados a múltiplos fatores fisiológicos, estruturais e hormonais que afetam exclusivamente o corpo feminino. Vamos entender os motivos e como diminuir essas recorrências a seguir.
Por que as mulheres são mais afetadas por problemas na coluna?
O corpo feminino tem características que podem favorecer a sobrecarga da coluna. Em geral, as mulheres têm menos massa muscular e óssea, e articulações mais flexíveis, que sofrem impactos importantes em diferentes fases da vida.
A constituição hormonal e suas alterações desde a puberdade, passando pelo período gestacional até a menopausa, também exercem papel importante no desenvolvimento de disfunções e dores.
Mas como os hormônios afetam a saúde da coluna?
O estrogênio, hormônio sexual feminino, regula diversos processos no organismo das mulheres, incluindo a forma como elas sentem dor e a manutenção da densidade óssea. Durante a puberdade, as mudanças hormonais já começam a influenciar a estrutura da coluna, estabelecendo padrões que acompanharão a mulher por toda a vida.
Durante a menopausa, quando há uma queda acentuada desse hormônio, muitas mulheres relatam um aumento das dores articulares e musculares em diferentes regiões do corpo, incluindo a coluna. Esta redução hormonal também afeta diretamente a parte óssea, aumentando o risco de osteoporose, que fragiliza os ossos e pode levar a fraturas.
Gravidez e dores nas costas: adaptações estruturais do corpo feminino
Na gravidez, outro hormônio entra em cena: a relaxina. Ele tem a importante função de preparar o corpo para o parto, deixando os ligamentos mais flexíveis. No entanto, essa mesma flexibilização pode levar a instabilidades na coluna, principalmente na região lombar, agravando dores que podem persistir no pós-parto.
Além disso, o crescimento da barriga durante a gestação altera a curvatura da coluna, sobrecarregando a lombar. O peso crescente do bebê exige que a estrutura da coluna se ajuste constantemente, criando uma hiperlordose compensatória que costuma persistir após o nascimento do filho.
Consequentemente, a rotina de carregar e amamentar o bebê também pode manter essa sobrecarga por mais tempo. Por isso, é essencial que as mães adotem medidas para proteger a saúde da coluna durante e após a gestação. Ajustar a postura ao amamentar, fortalecer a musculatura com exercícios adequados e procurar acompanhamento médico ao perceber dores persistentes são cuidados fundamentais. A lombalgia pós-parto não deve ser vista como algo inevitável! Com isso, é possível aliviar o desconforto nessa fase de dedicação ao bebê com orientação especializada.
O peso da rotina feminina na saúde da coluna
A vida da mulher moderna não é fácil. Além disso, entre carreira, casa e família, muitas assumem uma jornada dupla (ou tripla!), o que pode impactar diretamente a postura e a saúde da coluna.
Por exemplo, atividades diárias como varrer a casa, cozinhar e carregar compras podem parecer inofensivas, mas quando feitas de forma repetitiva e com a postura inadequada, aumentam o risco de dores crônicas. Sem falar na bolsa pesada, carregada sempre no mesmo ombro, e no salto alto, que, embora elegante, altera a biomecânica do corpo, sobrecarregando a lombar.
Doenças da coluna que afetam mais as mulheres
– Osteoporose: Após a menopausa, a queda do estrogênio compromete a densidade óssea, tornando os ossos mais frágeis e propensos a fraturas.
– Fibromialgia: Essa condição reumatológica, caracterizada por dor musculoesquelética difusa, é mais comum em mulheres e pode ter relação com a forma como o sistema nervoso central feminino processa a dor.
– Endometriose: Embora seja uma doença ginecológica, a endometriose pode causar dores intensas na região lombar e pélvica, muitas vezes sendo confundida com problemas na coluna.
Como preservar a saúde da sua coluna?
Se você é mulher e se identificou com algum dos problemas mencionados, saiba que mudanças de hábito podem prevenir e/ou aliviar as dores. Para isso, considere as seguintes dicas:
• Primeiramente, movimente-se! Exercícios como pilates, yoga e musculação fortalecem a musculatura do abdômen, região responsável por estabilizar a coluna vertebral, aumentando a resistência a sobrecargas.
• Além disso, carregue peso da forma correta. Ao levantar objetos, dobre os joelhos e mantenha a coluna alinhada.
• Da mesma forma, reduza o uso de salto alto. Se precisar usar, prefira modelos com salto mais largo e menor que 4 cm.
• Outra dica importante é alternar o ombro ao carregar bolsas ou, melhor ainda, usar mochilas ergonômicas.
• Também é essencial adotar uma boa postura no trabalho e nas tarefas diárias. Evite se curvar demais ou passar períodos sentada com uma postura incorreta.
• Por fim, fique atenta em caso de dores persistentes. Se o sintoma se tornar frequente, isso é um motivo de alerta para buscar avaliação médica.
Autocuidado: um direito e uma necessidade
Na Semana da Mulher e em todos os outros dias, cuidar da saúde da coluna é um passo essencial para uma vida com mais qualidade e autonomia.
Em meio à rotina intensa da mulher, cheia de responsabilidades e cobranças, cuidar da coluna também é, afinal, um ato de autocuidado. Seu corpo sustenta suas jornadas diárias, e ignorar a dor não deveria ser parte do caminho. Cuide da sua coluna todos os outros dias!
Se você tem dores frequentes na coluna, busque uma avaliação médica. Seu corpo merece esse cuidado!
Neurocirurgião de coluna com foco em cirurgia minimamente invasiva e atua há 20 anos na área. É também especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), pela Sociedade Brasileira de Coluna Vertebral (SBC), mestre pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e research fellow em cirurgia da coluna vertebral na University of Arkansas for Medical Sciences (EUA). O médico ainda atuou como preceptor de cirurgia de coluna vertebral no Departamento de Neurocirurgia e de Coluna do Setor da Unifesp de 2007 a 2015 e foi Chefe de Coluna do setor, de 2010 a 2015. Atualmente é membro do Hospital Sírio-Libanês e do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho.