Você já pensou como a dor pode ter diferentes implicações quando consideramos sexo e gênero? É essa reflexão e conscientização que a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) traz neste ano em sua campanha global para leigos e profissionais da saúde, com tema: ‘’Disparidades de Sexo e Gênero na Dor’’.
A relevância dos estudos da dor em homens e mulheres
Segundo a Associação, por décadas, estudos sobre dor focavam em animais machos, negligenciando fêmeas. Já nas pesquisas em humanos, apesar de muitas contemplarem tanto o homem quanto a mulher, a variável do sexo, em sua grande parte, não é analisada com a importância que deveria. A justificativa dada para isso é que o sexo feminino apresenta maior complexidade em seus componentes fisiológicos para análise.
Como neurocirurgião, defendo estudos equilibrados em ambos os sexos para melhor compreensão das questões relacionadas à dor. Uma vez que é fundamental evitar generalizações que podem prejudicar o resultado, análise e a eficácia clinica das abordagens com base científicas. Além disso, as pesquisas devem se concentrar em públicos similares, com a mesma faixa etária, doenças de base, para que os dados sejam confiáveis e aplicáveis na área de saúde.
A mulher sente mais dor crônica do que o homem?
Um estudo publicado na base da dados da PubMed, uma das mais reconhecidas da área biomédica, com o título ‘’Diferenças de sexo e gênero na dor’’, em 2022, evidencia que mais da metade das condições de dor crônica são mais comuns nas mulheres. Isso pode ocorrer porque as mulheres são mais suscetíveis a terem atrofia muscular, acumulo de gordura, piora na função muscular e influências hormonais que afetam os quadros de dor de uma forma geral.
Em relação às doenças da coluna, onde atuo, posso afirmar que as mulheres têm uma prevalência maior de disfunções e, a partir delas, são mais suscetíveis à dor, inclusive os quadros crônicos.
Além das doenças reumatológicas e autoimunes que afetam a coluna, como a espondilite anquilosante, temos também os casos de osteoporose. Esses problemas se desenvolvem nelas com mais frequência e intensidade em função das perdas hormonais da menopausa. Lembrando que a osteoporose fragiliza e enfraquece a estrutura óssea, favorecendo o processo degenerativo da coluna.
Entretanto, mulheres frequentemente relatam e lidam com dor com mais resistência que homens. Nesse aspecto, os estudos da IASP e as medidas de conscientização da população são importantes para que as condições especificas do público feminino não sejam subjulgadas, tanto para o diagnóstico como para o tratamento.
Em meu último podcast, trouxe mais detalhes sobre como analiso os quadros clínicos de dor nos meus pacientes, ponderando sexo e gênero e quais são os pontos fundamentais para uma abordagem assertiva. Além disso, trouxe uma reflexão final sobre os aspectos de melhorias que precisamos em nível global para a assertividade dos tratamentos.
Clique aqui para ouvir o episódio #18 do Podcast ‘’Hora da Coluna.’’
Referências: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36038207/
https://www.iasp-pain.org/advocacy/global-year/sex-and-gender-disparities-in-pain/