O câncer de mama é um dos mais frequentes entre as mulheres brasileiras, com cerca de 73 mil novos casos por ano. E, apesar dessa estatística, é fundamental reforçar: quando descoberto em estágios iniciais, a doença tem um alto potencial de cura e um prognóstico muito favorável.
Durante o Outubro Rosa, eu não apenas reforço a importância do diagnóstico precoce, mas também me dedico a educar minhas pacientes sobre os efeitos colaterais do tratamento que podem impactar a qualidade de vida. Entre eles, as dores nas costas, pois podem estar relacionadas tanto às terapias utilizadas quanto à progressão da doença (metástase óssea), exigindo intervenção médica e, em alguns casos, cirúrgicas.
Por que os tratamentos para o câncer de mama podem resultar em dor na coluna?
Os tratamentos contra o câncer são indispensáveis para a cura, mas, ocasionalmente, podem afetar ossos, músculos e articulações. É fundamental identificar a origem dessa dor, para entender como controlá-la e buscar a melhoria do bem-estar nessa jornada.
Entre as causas relacionadas ao tratamento, destaco:
- A composição das medicações na quimioterapia, terapias hormonais e terapias-alvo, que podem causar artralgias (dores articulares) e dores musculoesqueléticas.
- Redução da densidade óssea (osteopenia ou osteoporose), bastante comum durante as diferentes etapas de tratamento, o que enfraquece progressivamente os ossos e os torna mais sujeitos a fraturas.
- A supressão estrogênica, que ocorre quando medicamentos, como os inibidores de aromatase, bloqueiam o estrogênio, um dos principais hormônios femininos. Esse processo pode levar a maior rigidez, dor articular e desgaste das cartilagens.
Esses efeitos também podem limitar a mobilidade, acompanhar fadiga e impactar as atividades cotidianas. Por isso, merecem receber atenção e cuidados.
Como diferenciar dores nas costas comuns de dores relacionadas ao câncer?
É relativamente comum que pacientes com câncer de mama sintam dores musculoesqueléticas devido ao tratamento ou até mesmo por fatores da vida diária. No entanto, é essencial saber o momento em que esse sintoma precisa de uma investigação mais profunda.
Para a paciente ou o profissional que a acompanha, alguns indícios podem alertar para a necessidade de analisar com mais cautela:
- Dor nova, que não existia antes, e que persiste por semanas.
- Dor que piora em repouso, à noite, ou muda conforme a posição, não sendo aliviada por mudanças posturais comuns.
- Sintomas associados que indicam compressão nervosa ou medular, como fraqueza nos membros inferiores, formigamentos, dificuldade para caminhar ou alterações no controle urinário/intestinal.
- Dor que não responde bem a medicações comuns ou terapias físicas.
- Presença prévia de câncer de mama (histórico familiar).
Dor na coluna também pode estar relacionada à metástase óssea
A dor nas costas também pode indicar que houve uma metástase óssea, um quadro em que células cancerígenas do seio migram para os ossos. A coluna vertebral é uma das regiões mais frequentemente acometidas nos casos de câncer de mama.
Neste cenário de metástase, a dor costuma ser persistente e progressiva. Eu me preocupo especialmente quando observo os sintomas de compressão listados acima, pois eles exigem uma avaliação urgente para evitar danos neurológicos permanentes.
Identificar essa diferença é crucial para que eu defina, junto à equipe, as estratégias de tratamento mais eficazes.
Tratamentos possíveis e estratégias terapêuticas
Quando a dor nas costas está associada à metástase ou efeitos colaterais, as opções terapêuticas que eu utilizo e oriento visam alívio da dor, estabilização da coluna, preservação da função neurológica e melhora da qualidade de vida.
No manejo da dor óssea e metastática, a radioterapia desempenha um papel considerável. Ela pode ser aplicada diretamente na vértebra atingida para reduzir o tumor localmente, aliviando a dor e prevenindo a progressão da compressão vertebral.
A cirurgia é minha indicação em casos de instabilidade vertebral ou compressão medular significativa, com o objetivo de descomprimir e estabilizar a coluna para não só preservar a função neurológica da paciente como também garantir sua mobilidade.
Além das intervenções cirúrgicas e sistêmicas, existem também medidas de suporte e cuidados integrados. Isso envolve combinar o uso de analgésicos, incluindo opióides, em casos necessários, anti-inflamatórios e adjuvantes para dor neuropática.
Outros pilares são a fisioterapia e exercícios supervisionados, quando possível, com foco em fortalecimento muscular e manutenção da mobilidade.
Os cuidados paliativos ainda são pilares que devem fundamentar o tratamento, focando sempre no conforto, dignidade e na melhoria da qualidade de vida da paciente.
Por fim, o tratamento precisa ser planejado por uma equipe multidisciplinar, a fim de oferecer o cuidado mais completo e individualizado possível.