Motivo de desconforto, baixa estima, piadas vexatórias e até mesmo, em alguns casos, dor e incapacitação: assim é a escoliose, um desvio anormal da coluna que já afeta cerca de 6 milhões de brasileiros e une 10 mil pessoas em um grupo de rede social.
Mesmo quando não apresenta sintomas mais sérios, como um quadro de dor, o problema é visível. O corpo fica mais inclinado, ombros, quadris e cintura se mostram assimétricos, além de braços e pernas parecerem uns menores que os outros. Por isso, a escoliose tende a trazer um sentimento de inadequação ao paciente.
Assim, não é surpresa que tanta gente esteja reunida trocando informações, pesquisando sobre especialistas e contando relatos pessoais sobre seus tratamentos. “Descobri a escoliose aos 12 anos, quando já estava com uma curvatura de 40 graus e me indicaram operar. Mas as notícias de cirurgias de coluna que chegavam até nós, no boca-a-boca, numa era pré-internet, não eram tão positivas. Então eu não fiz”, conta Cristina Maluli, membro do grupo.
Hoje com 35 anos, Cristina relata que sua escoliose começou a aumentar há 5 anos, a deixando alguns meses sem conseguir andar. Foi então que ela descobriu a comunidade no Facebook. “Aprendi ali muito mais sobre a escoliose do que com muitos médicos que visitei, e encontrei também muitas histórias e relatos que me encorajaram a tomar a decisão por hoje fazer a cirurgia”, conta ela.
Como é a cirurgia para escoliose?
Os adolescentes com escoliose idiopática, normalmente, não sentem dor. A cirurgia visa correção da postura e correção da curva, impedindo que continue aumentando.
Normalmente a cirurgia é realizada de forma aberta, onde fazemos a correção da curva e fixamos a coluna, com parafusos, nesta nova posição. É colocado enxerto ósseo para que ocorra a fusão das vértebras.
Nos mais velhos, acima de 50 anos, o quadro clínico da escoliose costuma ser acompanhado de dor, instabilidade da coluna ou por compressão de alguma raiz nervosa. Quando há instabilidade, a cirurgia com parafusos para fixar a coluna é comumente necessária. Ao ocorrer a compressão da raiz nervosa, se faz essencial descomprimi-la. Caso esta descompressão seja muito ampla e deixe a coluna instável, devemos associar o uso de parafusos também.
O que há de mais moderno no tratamento?
Existem novas técnicas minimamente invasivas que podem ser usadas no manejo da escoliose. Uma delas chegou há pouco tempo no Brasil e vem despertando o interesse da comunidade.
É uma cirurgia que traz mais benefícios que os métodos convencionais para alguns perfis de pacientes, principalmente escolioses neuromusculares desenvolvidas por alguma doença neurológica, diminuindo os riscos de infecções.
O procedimento utiliza equipamentos especiais e substitui a via aberta por duas pequenas incisões próximas às extremidades da coluna, evitando que os cortes tenham de ser feita em toda extensão do segmento que será operado.
Nos adultos, as cirurgias minimamente invasivas têm evitado as com parafusos: a descompressão realizada não deixa a coluna instável e, portanto, sem a necessidade de colocar os acessórios. Isso pode ser feito com tubos e cortes de 3 cm, com microscópio e anestesia geral ou com o uso da endoscopia e cortes de 1mm, com anestesia geral ou local e alta no mesmo dia.
Reconhecendo a escoliose
Em adolescentes, o desvio normalmente é desenvolvido no padrão de letras “C” ou “S”, a partir da região torácica ou na transição com a lombar. Assim, seu diagnóstico é inicialmente clínico. O médico pede ao indivíduo para que incline o corpo para a frente, como se quisesse tocar os pés, e permaneça com as pernas esticadas. Neste momento, é comum que um dos lados do tórax ou da área lombar apareça de modo mais predominante.
Outras alterações analisadas são a assimetria entre ombros e dos quadris assim como a distância dos braços para os quadris. Após essa observação, ocorre o encaminhamento para exames de imagem que irão mapear o grau do desvio.
Nos adultos pode ocorrer a inclinação do corpo , mas normalmente o preponderante é a dor na coluna, braços ou pernas, com grande perda da qualidade de vida
O que causa a escoliose?
A condição pode ter origem congênita, quando é encontrada já ao nascer, ou idiopática, quando não há causa definida, assim como estar associada a doenças neuromusculares e degenerativas (adultos).
A questão é que a escoliose pode piorar com aumento da curvatura por isto a importância do diagnóstico precoce.
Lembrando que os mais jovens raramente apresentam dor de escoliose de origem indefinida, mas adultos normalmente têm quadros dolorosos como fator preponderante. A maior parte não necessita de tratamento cirúrgico, apenas clínico.
Em meu canal de podcast, especialmente dedicado ao universo da coluna, falo a respeito da escoliose no último episódio. O conteúdo pode ser acessado aqui: Identificando e tratando a escoliose em diferentes fases da vida.